domingo, 11 de novembro de 2018

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor.

É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o Lume d'Arena, desde 2012.

Foram quase 15 mil acessos a poemas que publiquei de todos os meus livros, exceto pelo último e póstero.

Eu tinha decidido que não publicaria poesia em papel. Porém, com as facilidades tecnológicas de termos publicados apenas os livros que verdadeiramente serão lidos e encomendados através de plataformas por demanda, decidi publicar a partir de 2019, anualmente, cada uma das minhas mais de quinze obras poéticas.

Esta decisão resulta da atualidade dos livros, escritos desde 1998 e que até hoje podem ser lidos como se tivessem sido escritos ontem.

Envidarei todos os meus esforços para que o material a ser publicado seja de alta qualidade em forma e conteúdo e que os poemas sejam ilustrados por ilustrador sensível ao fio condutor de cada peça poética.

Conto com sua visita, por enquanto, no meu outro blogue: Pedra de Toque (www.pedradetoque.com). Também por aqui, uma vez que o Lume d'Arena não será atualizado, mas poderá permanecer disponível. E depois vamos nos encontrar para que possa autografar cada um dos livros de poesia que será publicado em papel.

Abraço do autor!





domingo, 4 de novembro de 2018

João Rosa de Castro - Persona Non Grata


MEDIDA PROVISÓRIA

Celulares com caixas cheias.
Desaconselham-se os folclóricos conselheiros.
E nós aqui, esperando, esperando.
Províncias em guerra.
Calúnias arrebatadoras soam pelas grandes ilhas.
Soam contra uma aldeia sã.
E nós aqui: esperando, esperando.
As vacas sóbrias e saudáveis alimentam as gentes de além.
As vacas boas vão em carne viva para muito além.
Desavenças explodem nas colunas dos jornais.
Gente repartida.
Partidos repartidos.
Sorte repartida.
Grana repartida entre pouquíssimos.
E nós aqui esperando, esperando.
Miséria, miséria repartida entre muitíssimos.
Fecham – cessam os hospitais psiquiátricos.
Andam – crescem os cidadãos esquizofrênicos.
Uma só matemática basta para aniquilar esperanças.
Uma observação de rodapé basta para arruinar sonhos.
E nós? Aqui esperando, esperando
Com esse sorriso capitalista, destruindo a pureza do semblante.
Esse sorriso, esse implante.
Esse implante.
Implante.



domingo, 21 de outubro de 2018

João Rosa de Castro - Persona Non Grata


PARALELEPÍPEDOS

Todo o amor que eu carrego no peito.
Toda flor que eu encontrar no caminho.
Rasuras, erros de mentalização.
Tudo isso serve de sinal?
Toda pessoa carece de um sinal?
Toda existência precisa de um final?
Erros. Erros de interrogação.
Distorções sobre a queda de uma nação.
Todo tempo de uma vida,
Esses passos que sempre me trazem aqui,
Esse vai-e-vem infernal de gente,
Tudo é enfadonho quando não estou apaixonado.
Tédio aos paralelepípedos.
Tudo isso é uma relíquia.
Todo homem guarda suas relíquias.
Emoções, emoções – sensações.
O que resta a uma vida ao fim
São lembranças de vistas esplêndidas,
Toques esplêndidos,
Um beijo, que seja,
Um aperto de mão.
Síntese de sentimentos desbravadores
Que imprimem impulsos,
Induz aos atos
E rege o mundo.
Tudo isso funciona como arsenal.
Toda vida é monumental.
Erro. Erro de interpretação.



domingo, 14 de outubro de 2018

João Rosa de Castro - Persona Non Grata

O DIÁRIO

Anda por ruas estreitas que dão na avenida.
Vê os passantes apressados esperando o sinal.
Frisa que sabe onde é norte – prescinde de bússola.
Abre o livro,
Lê o livro,
Fecha o livro.
E o sono não veio ainda.
Disfarça,
Corrompe a hora de dormir com a insônia atrevida.
Pára, pensa, fica um pouco na sala.
Corre de volta para o quarto,
Fugindo de qualquer sinal que houver de esperança.
Não tem esperança,
Não lhe dá crédito.
Confessa de si para si que a esperança roubara-lhe a verdade.
Esperança ladra e faceira e dissimulada.
Pior do que a pior mulher que já amara.
Dorme e sonha.
Tudo o que mais quer – sonha.
Tudo o que menos quer – sonha.
Sonha os restos do dia,
Coisas de um remoto passado,
Suas mais latentes vontades,
Suas vontades incubadas,
Inaceitáveis,
Inconfessáveis.
Sonha tudo de que ao acordar se esquece.
Ouve vindo da mente uma canção e outra canção.
Seu pensamento é tomado por vozes ousadas,
Intrusas,
Fugazes,
Indesejáveis, até.
Fala pouco aos amigos.
Ouve mais e exige que falem
Para que possa ouvir com interesse,
Com ajuda,
Com anseio,
Com preguiça, até.
Conta o dinheiro escondido na gaveta,
Torna a contar.
Desiste de pensar como todos pensam.
Cresce sem perceber muito,
Só repara quando vê coisas antigas suas.


domingo, 30 de setembro de 2018

João Rosa de Castro - Persona Non Grata


COISAS

Fim da lua.
Finda vida desde nata.
Relíquia para quê?
Relíquia para quem?
Sucata, papelão nos carros de duas rodas puxados pelo peito dos meninos de rua, de calçadas.
Bandeiras sujas com seus símbolos envergonhados,
Envergonhada pátria.
Quanta coisa!
Quantas mais coisas?
Finda escuridão: árvores velhas enriquecidas pela finda primavera, abraçadas, amordaçadas pelas correntes de luzes de natal.
Jornal escrito, impresso, lido – jogado fora.
Fim da estrada.
Finda pauta no congresso: de que cor a nova moeda?
De que cor a nova cédula?
Que coisa?
Que coisa?
Qual a sorte de pensamento da nova geração?
Finda bagaça.
A bagaça lotada.
Fim da abolição da escravatura,
Finda a abolição da ditadura,
Fim da abolição da censura,
Finda toda e qualquer cura.
Médicos para doentes,
Doentes para médicos.
Remédios, farmácias, seringas, mandingas – coisas humanas e coisas não-humanas.
Tudo.
Tudo.
Tudo.
O horizonte, ao longe, reto, basto e quieto
Pensa.
Pensa.
Pensa.



domingo, 23 de setembro de 2018

João Rosa de Castro - Persona Non Grata

DEPOIS DO CARNAVAL

Salve a floresta,
Ela presta.
Cante a seresta
Que inda resta.
Dite a alegria,
Ela procria.
Sinta a harmonia
Que se inicia.
Desligue a razão,
Ela só diz: NÃO!
Solte a emoção,
Eis um brasão
De bandeira:
EMOÇÃO.
Liberte as lágrimas,
Elas corroem enquanto presas.
Acaricie a cabeça da criança
Que dança.
Dilua o pó da maldade
No rio que aflui no nada.
Sorria o sorriso amplo,
Ele guardado é pranto.
Veja os rostos sóbrios
Na passarela da vida.
Ouça baixinho o samba,
Ele nunca atrapalha.
Brinque na areia da praia,
Ela é sempre macia.
Deixe de supremacia;
Só quem dorme é supremo.
Deixe de virtualismo,
A Internet é fria;
Deixe de telepatia,
Vá visitar seus amigos
E abrace-os na tarde tépida.
Sinta a harmonia, cante a seresta.
Dite a alegria, salve a floresta.

domingo, 16 de setembro de 2018

João Rosa de Castro - Persona Non Grata


HABEAS CORPUS

Ó Senhoras,
Digam-me as horas.
Hei de ir embora.
Mas digam-me antes
Qual rua seguir.
Ó Senhoras,
Digam-me as horas
E a horta onde encontro
Couve, escarola.
Não me falem dos números,
Dos bilhões de reais.
Digam-me o chá,
O xarope que sara
Minha tosse, meu choque,
Minha contínua morte.
Ó Senhoras
Digam-me as horas
E me entreguem aos homens
Que aguardam lá fora.
Ó Senhoras.



João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...