domingo, 28 de outubro de 2012

João Rosa de Castro - Adeuses

CABOCLA

Conceição não era feia.
Conceição não era freda,
Conceição não era imaculada não.
Deixou epitáfio para dizer que sabia
Não só viver como morrer feliz.
Dizia assim: “Morri, morri
Para que alguém melhor que eu nascesse.”

Conceição não era pedra.
Conceição era suave
Como uma mulher
Que se propõe
A acordar sorrindo,
A levantar para o primeiro dia.

Conceição era super high-tech
Se juntava com moleques
E ouvia rock ‘n’ roll.

Conceição me abraçou
Naquela noite de adeus
E me deixou como eu sou,
Não arrancou nada de mim.

Amanhã será memória
Que toma o peito como o perfume
E vai desaparecendo
Parecendo um sabor que foge à boca...

domingo, 21 de outubro de 2012

João Rosa de Castro - Adeuses

SONETO
(a João Paulo Feliciano Magalhães)

Eu julgarei qual nunca hei julgado,
Ao som deste computer registrando,
Pois que vivi contente e implorando,
O pão que nas alturas me hás negado.

Notei que o celular tinha tocado,
Que o business é que estava te guiando,
E era a fome o que vinha me tomando,
Pedi para não morrer insaciado.

Agora veja só meu veredicto
Eu sou o agadê com as imagens
Arquivo dos seus erros nesta esfera.

Aqui não há o dito e o não dito,
Veremos se farás lindas viagens
Ou sairás para sempre desta terra…!

domingo, 14 de outubro de 2012

João Rosa de Castro - Adeuses

PLURAL

Não dá mais tempo para faz-de-contas em meio ao tráfego,
Não vou oxítono pedir licença para entrar.
Que ouçam as vozes que proliferam do meu silêncio
E reverberam com a luz elétrica, paredes.
Somado eu fico, parte da vida que flui no mundo.
Como uma faixa de fuso horário rondando um mapa.
Eu não lhe peço que me liberte ou que me amasse
Ou diga nomes que tornem vivos os meus desejos,
Mas duas vozes que se entrelaçam fazem ouro
Que o lastro régio dessa conversa segue e acumula.
Exibo a força com a coragem que em vão perdera
Por que no meio do povo seja tudo plural…

domingo, 7 de outubro de 2012

João Rosa de Castro - Adeuses

A TESTEMUNHA DO TEMPO

A testemunha do tempo, mecânico tempo,
Teve vergonha do que vira na cidade, sombria cidade.
Foi ao parque, foi ao banco, foi à feira.
Teve mulheres,
Amou as mulheres,
Odiou as mulheres,
Encontrou as mulheres nos braços de astronautas.

Não aprendeu a viver,
Não aprendeu a orgia filosófica
Que de longe se assistia nas janelas.

Ficava na sala, dizendo com o teclado
O que os antigos só diziam com beijos.
O que os antigos só diziam com beijos.

E uma bala de revólver, anatômico revólver,
Procurava sua testa.

A testemunha do tempo não sabia mais
Como desenhar o mundo no seu pensamento.
Teve receio do que vira no espelho, geográfico espelho.

Mas ninguém quis saber o que vivera.
Fez anotações e redigiu ensaios em vão.

A testemunha do tempo podia ter sido apenas homem…

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...