MADREDEUS
domingo, 26 de maio de 2013
João Rosa de Castro - Alma Nua
domingo, 19 de maio de 2013
João Rosa de Castro - Alma Nua
ENYA
- Que me diz da minha
estranheza:
- Por quê?
- Que essa música tão
suave, fundo para imagens paradisíacas, pode servir para me enganar. Aqui entre
os que batem os martelos, cortam o ferro com uma serra. Crianças chorando de
dor ou até de fome.
- Não acho. Ela
serve para o seu momento de solidão, em que você pode imaginar o mundo que você
escolher. Eleva o seu espírito até a surdez quanto ao som que te incomoda.
- Se for assim vou
ficar mais surdo do que ouvir. Há tantos sons que me incomodam, neste mundo em
construção. Nossa realidade com seus anseios primitivos.
- Ela é a sua pausa
para o que pode ser só seu. Embora meu seja o coro, a poesia, o piano, a idéia,
a voz que move. As imagens de cada um são únicas. Este mundo é só seu. O modo
de perceber a história, de recordar o vivido, de sentir o momento e vislumbrar
o futuro, é todo seu.
- Então digamos que
eu é que me engano e a sua música é apenas parte do contexto em que isso
acontece.
- Tudo pode nos levar
ao erro, até mesmo a canção que vem do interior da floresta. Mas o erro também
serve para construir o seu mundo. Se se tratar de um equívoco, logo terá o
excesso dispensado e esquecido. Se se tratar de uma falha, logo será emendada com o que lhe faltar. Além disso, tudo
mais virá a ser perfeição.
- Acho que no fundo
eu resisto a assumir o meu mundo, receando desistir de viver no mundo comum. É
um absurdo abandonar o mundo comum.
- É verdade, o mundo
comum não pode ser abandonado com boa consciência. Mas não há nenhum dilema
entre os dois. É como mudar de sala, ou alternar as árvores sob cuja sombra se
descansa. É privilégio de poucos amar esses dois mundos com o mesmo amor. O
trânsito entre eles não é apenas possível como também necessário. A minha música
pode estar presente nos dois.
- De alguma forma,
certamente.
- É o que sempre
espero, é nisso que tenho esperança.
domingo, 12 de maio de 2013
João Rosa de Castro - Alma Nua
ENIGMA
domingo, 5 de maio de 2013
João Rosa de Castro - Alma Nua
DEAD CAN DANCE
Eu posso estar completamente
equivocado, mas sua música causa a impressão da morte. Eu sou muito ligado aos
nomes. “Os Mortos Podem Dançar” dão a mim uma idéia de morte feliz. Não digo em
relação à causa mortis, talvez isso
nem importe à idéia que tenho desse nome. O que me ocorre são os efeitos da morte,
isto é, a alegria que poderia surgir da grande questão de Shakespeare: “ser ou
não ser”. Na verdade, ela deveria ser “morrer ou não morrer”. E o que essa
decisão traz em seu interior? Dançar entre seres desconexos ou ligados.
Levemente, livremente, com imponência ou orgulho. Dançar é o que podemos fazer
de mais vivo. Talvez vocês tenham encontrado uma passagem fantástica para o
sentido da eternidade. Na sua música, sinto o que poderia ser a situação ideal
do homem que teme a morte e anseia por imortalidade. Uma esperança suprema que
faz valer cada passo, cada fração de segundo, cada partícula de ar que
respiramos, cada momento de pesar que vivemos. Uma religião no seu sentido mais
amplo. Uma redenção para a alma mais nula, a qual em cada movimento da dança
póstuma enxergará uma virtude nova que não fora percebida na vida.
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