domingo, 30 de junho de 2013

João Rosa de Castro - Alma Nua


DELÍRIO DARWINIANO

 

Era uma vez o Homem. O Homem e os outros homens. No outro dia, veio ao Homem um outro homem pequenino e disse que ia embora porque estava longe, muito longe de se parecer com o Homem. O Homem tentou convencer ou outro homem e seu grupo a ficarem, dizendo até que o outro homem era superior, mas não conseguiu e o outro homem disse que era verme e com seu grupo foram-se embora. Depois vieram os outros outros homens, reclamando que rastejavam lentamente, tão diferentes do Homem veloz, que tentou convencê-los a ficar, mas debalde – disseram ser lesmas e partiram. No outro dia, muitos outros outros homens parecidos fizeram o mesmo, dizendo que eram lagartixas, camaleões, camaleoas, mariposas, moscas, mandruvás, aranhas, joaninhas, pulgas, pernilongos, traças, borboletas e outros outros homens. E mesmo com o homem levantando-lhes a bola, dizendo que voavam, nadavam, faziam teias, pulavam longe. Nada. Foram todos, cada um com seu grupo, embora. O homem ficou pensativo pressagiando dias ruins, de abandono. No outro dia, outros outros homens maiores vieram ao Homem e disseram que também o deixariam, envergonhados de sua inferioridade diante Dele. Mesmo que o Homem insistisse nas qualidades deles, de liberdade, fidelidade, amizade, astúcia, destreza, higiene, alegria, espontaneidade, sinceridade, disseram que nada disso se comparava às virtudes do Homem. Afinal, no fundo, no fundo, não passavam de cachorros, gatos, leões, ursos, elefantes, urubus, águias, rinocerontes, avestruzes, papagaios etc. cada um deles foi-se embora com seu grupo. O Homem principiou a entrar num desespero, pensando que todo o mundo agitado e colorido e diverso se resumiria a homens semelhantes a Ele.

Outros outros homens disseram que também o deixariam, pois não eram bem homens, mas pseudo-homens; na verdade, eram macacos e assim partiriam. “Não é possível – pensou o Homem – “até eles, tão próximos de mim, se excluírem assim? O que terei feito de errado!?”

No entanto, o pior ainda estava por vir. Pois no outro dia, outros outros homens, com as mesmas feições do Homem, disseram que partiriam, porque não eram homens, mas homossexuais normais, ou seja, inferiores ao próprio Homem. Desejavam o homem de peito peludo e não o homem de peitos grandes, como fazia o Homem. O Homem disse que “isso era um absurdo, afinal mesmo ‘assim’, esses outros homens poderiam ser úteis para Ele, pois eram tão vigorosos como ele.” Não quiseram ouvir os elogios do Homem e partiram. No outro dia, para a surpresa do homem, outros grupos de outros homens vieram a Ele com reclamações parecidas e se diziam homossexuais rebeldes, homossexuais transexuais, homossexuais sacerdotes, homossexuais cientistas, homossexuais filósofos e mais de outros dois milhões de tipos diferentes de grupos de homossexuais. Assim, abandonaram-No, mesmo depois de muito que Ele implorou que ficassem.
O homem ficou perplexo com a situação. Até que finalmente, o outro homem que o Homem mais amava, isto é, o homem de pele macia e de peitos grandes, disse que também ia embora, porque “não tinha tanta testosterona quanto o Homem e não poderia imitá-lo em sua força. De resto, o mundo ficara muito monótono depois da partida dos outros outros homens.” O homem disse a ele que isso era um grande equívoco, que esse outro homem era muito forte, pois até suportava a dor de dar à luz os homens de peito peludo e outros homens de peitos grandes, além de nutri-los com seu próprio alimento, educá-los e aquecê-los na infância. Mas o outro homem e o seu grupo disse que isso era balela do Homem de peito peludo, o qual “poderia muito bem se virar sozinho”, e que no fundo, no fundo, ele, o homem de peitos grandes, não era bem homem, mas sim Mulher. E partiu.

domingo, 23 de junho de 2013

João Rosa de Castro - Alma Nua


CAMILLE

(à Liliana Liviano Wahba)

 

O seu olhar repousa na infinitude do tempo.

A História não o suporta – envergonhada.

As mulheres o confundem – cobiçosas.

Os homens o renegam – famintos.

Não posso ver suas mãos mágicas,

Mas quiçá imaginá-las.

Ora exatas e definidas

Ora selvagens e vacilantes,

Pelo metal,

Pelo mármore,

Pela argila,

Oscilando majestosas,

Contrárias, ousadas.

Seus cabelos despenteados

Suas rendas esquecidas.

Uma presilha? Talvez

Ou apenas um nó.

De que, Camille,

De que é feita a loucura

Senão dum poder tão austero

Que nunca jamais renuncia?

Que ar é esse que você respira?

Pronta para o vácuo do mundo,

Que outra vida poderia viver?

O leite – derramado.

O velho leite – derramado.

Entre a velha Mãe de Ferro

E uma madrasta distraída

Você geme, e chora, balbucia.

Entre o Pai pelos avessos

Você foge para o amplo

E encontra o destino, ridículo – ingente.

Quisera sentir em francês.

E depois o seu auto-retrato,

A Pequena Castelã,

Jeanne Criança,

A Aurora e a Prece

Devem ter causado pavor

A escultores menores.

Você de perfil parece tão séria

Apesar da fita

Enfeitando seus cabelos.

Mas o olhar é o mesmo,

Que repousa na infinitude do tempo.

domingo, 16 de junho de 2013

João Rosa de Castro - Alma Nua



ITAPARICA

Mais uma vez e eu justificando meus gostos de leitura. Me perguntaram no palco da minha cabeça porque eu dava essa ênfase ao João: o que tinha ele de tão bom. Eu respondia, como se o defendesse de um exército de inimigos, que ele é uma honra; ele é demais, versatilíssimo, móvel, tem um espírito – coisa tão rara. Ah o João, tinha de ser mais um João. Mesmo tendo lido pouco dele, já posso adivinhar a honra assim mesmo. Há algum tempo li no jornal – para minha estupefação – que ele, Ele, o João, estava aborrecido porque o haviam excluído de uma festa de escritores, um evento literário ou antologia, não me lembro muito bem de que tratava a festa. Achei tão estranho o seu aborrecimento que cheguei a pensar “com meus botões” que ele estava dissimulando. Afinal, tanto melhor para ele que sua obra não se confunda, muito menos com obras como aquelas de magos milionários; foi posta à parte por curadores ou críticos de boa consciência e bona fide – que ainda há. A obra do João é um monumento distinto. Isso de se aborrecer só pode ser modéstia, pura modéstia do belo João, cidadão democrático. Seus elementos de encanto não acho em muitos outros. Me sinto em tão boa companhia com ele. Ele sabe tão bem o que perdemos com o que vimos ganhando e mesmo assim não lança mão de saudosismo improfícuo – apenas faz reviver um glamour pela vida, em cada passo, que chego ao cúmulo de ter esperança nela. Brinca com a cara e a coroa da moeda da existência e nem assim perde o rigor de uma consciência impávida e a liberdade de uma vontade pura.

domingo, 9 de junho de 2013

João Rosa de Castro - Alma Nua

EXÍLIO INTERNO

O pior exílio é o interno
Eis do que muitos fogem.
No seio do lar o descaso.
A intensidade da minha alegria.
A profundidade da minha angústia.
Inédito espetáculo num ensaio.
Eterno preparo para não ser visto,
Tanto quanto o dos distantes amados.
O mais próximo é o mais odioso.
Uma ameaça constante.
O mais distante não causa dano:
Parece falar de outro planeta,
Inalcançável, indiferente.
Mais adiante sou o herege.
Objeto de novenas,
Motivo para eternos rosários.
Credos, paternostershail Marys.
Como se a natureza houvesse errado
Em mim como num vulcão
Que desdenha os diabos.
Diabólicos sorrisos.
Como se o soldado-mãe
Como se o padre-mãe
Expiasse pelo crime
De conceber o grande monstro.
A esfinge que devora os homens
Perdidos nos prazeres da inocência.
Sim, exílio interno.
Mais interno do que nunca.
Dum lado a espera
Ou até mesmo o encanto
Do momento tão oportuno
De me expulsar para o meu mundo.
Risos da caricatura:
Um boneco que fala!
Uma estátua que anda!
Um demente que contesta
Napoleães e Platões!
O teste da moralidade!
Ele tem tudo de mal,
Mas ainda cabe nele
Esse contêiner infinito.
Vamos, ainda cabe nele
O nosso lixo atômico.
Aproveita que é estrangeiro
E que não tem passaporte
Para viver no paraíso
De compaixão e miséria.
É o exílio interno
O pior deles, na certa.
Na padaria, pensam em vender o pão.
Pensam em aumentar o cigarro.
Pensam seriamente quando digo obrigado.
Quando ando pelas ruas
Nowhere to go
Eu também fico procurando discos-voadores no céu.
As mulheres neutralizam tão pouco
A rudeza dos seus filhos.
Até parece que os amantes conceberam dormindo.
Sinto-me transformando
Nessa espécie quase-humana,
Tão natural e tranquila.
Mas no exílio não posso.
Sempre sinto que voltarei para a minha amada terra
Que tem palmeiras onde canta – e até dança – o sabiá.
Nunca mais serei popular.
Nunca mais saberei copular
Com saudade das belezas que eu tinha na minha terra.
É tão estranho vê-los competir.
É estranho vê-los jogar bola.
Vídeo-game,
Conversando
Nesse idioma estranho,
Programando o futuro,
Acreditando nele piamente.
Os meninos e os homens afirmando uma força.
As meninas e as mulheres preparando a maquilagem.
Os meninos contando dinheiro
Pras meninas dando mamá.
As famílias nas ruas falando mal das famílias
E das famílias das outras famílias.
Cada qual se sentindo a mais nobre.
Todo mundo tem medo de ficar sem amor.
Antes mal acompanhados do que só:
A solidão faz um medo medonho.
Todo mundo tem medo de ficar sem a grana.
Todo mundo tem medo de ficar sem a fama de bom.
Os ruinzinhos por natureza se juntam
Em grupinhos muito pequenininhos.
E os bons, a grande maioria,
Não lhes dá muita atenção.
Eu até quis me juntar aos ruinzinhos,
Mas eles não sabem que o são.
O exílio é duro
Como a doce rapadura...
É preciso mostrar alguma dor.
Uma fraqueza qualquer
Para passar pelo portão.
O alívio é palavra proibida
O prazer de qualquer um uma blasfêmia.
Sexo só para procriação
Ou grana quando ela falta.
É tudo técnico:
Beijo e puxado,
Puxado e filhos,
Filhos e dinheiro,
Dinheiro e cerveja,
Cerveja e silêncio.
Sinuca e dominó.
Na afirmação dos homens – axé e forró,
No desespero das mulheres – forró e axé.
Rock ‘n’ roll para afetar rebeldia
Sem saber contra o quê.
Arte? Arte!? Arte!!??
Não! Não!! Não!!!
Bingo. Bicho. TV.
Pura diversão.
Conversas, muitas conversas com palavras.
Camas, muitas camas com lençóis.
Um filme! Um filme!
Depois de tudo – dublado.
Depois de tudo – legendado.
Depois de tudo – esquecido.
Os cachorros latem no exílio.
Os gatos miam no exílio.
E as pedras se encontram.
No domingo fico saudoso do ócio.

O melhor exílio é o interno.

Joâo Rosa de Castro - Alma Nua

EXÍLIO INTERNO

O pior exílio é o interno
Eis do que muitos fogem.
No seio do lar o descaso.
A intensidade da minha alegria.
A profundidade da minha angústia.
Inédito espetáculo num ensaio.
Eterno preparo para não ser visto,
Tanto quanto o dos distantes amados.
O mais próximo é o mais odioso.
Uma ameaça constante.
O mais distante não causa dano:
Parece falar de outro planeta,
Inalcançável, indiferente.
Mais adiante sou o herege.
Objeto de novenas,
Motivo para eternos rosários.
Credos, paternosters, hail Marys.
Como se a natureza houvesse errado
Em mim como num vulcão
Que desdenha os diabos.
Diabólicos sorrisos.
Como se o soldado-mãe
Como se o padre-mãe
Expiasse pelo crime
De conceber o grande monstro.
A esfinge que devora os homens
Perdidos nos prazeres da inocência.
Sim, exílio interno.
Mais interno do que nunca.
Dum lado a espera
Ou até mesmo o encanto
Do momento tão oportuno
De me expulsar para o meu mundo.
Risos da caricatura:
Um boneco que fala!
Uma estátua que anda!
Um demente que contesta
Napoleães e Platões!
O teste da moralidade!
Ele tem tudo de mal,
Mas ainda cabe nele
Esse contêiner infinito.
Vamos, ainda cabe nele
O nosso lixo atômico.
Aproveita que é estrangeiro
E que não tem passaporte
Para viver no paraíso
De compaixão e miséria.
É o exílio interno
O pior deles, na certa.
Na padaria, pensam em vender o pão.
Pensam em aumentar o cigarro.
Pensam seriamente quando digo obrigado.
Quando ando pelas ruas
Nowhere to go
Eu também fico procurando discos-voadores no céu.
As mulheres neutralizam tão pouco
A rudeza dos seus filhos.
Até parece que os amantes conceberam dormindo.
Sinto-me transformando
Nessa espécie quase-humana,
Tão natural e tranquila.
Mas no exílio não posso.
Sempre sinto que voltarei para a minha amada terra
Que tem palmeiras onde canta – e até dança – o sabiá.
Nunca mais serei popular.
Nunca mais saberei copular
Com saudade das belezas que eu tinha na minha terra.
É tão estranho vê-los competir.
É estranho vê-los jogar bola.
Vídeo-game,
Conversando
Nesse idioma estranho,
Programando o futuro,
Acreditando nele piamente.
Os meninos e os homens afirmando uma força.
As meninas e as mulheres preparando a maquilagem.
Os meninos contando dinheiro
Pras meninas dando mamá.
As famílias nas ruas falando mal das famílias
E das famílias das outras famílias.
Cada qual se sentindo a mais nobre.
Todo mundo tem medo de ficar sem amor.
Antes mal acompanhados do que só:
A solidão faz um medo medonho.
Todo mundo tem medo de ficar sem a grana.
Todo mundo tem medo de ficar sem a fama de bom.
Os ruinzinhos por natureza se juntam
Em grupinhos muito pequenininhos.
E os bons, a grande maioria,
Não lhes dá muita atenção.
Eu até quis me juntar aos ruinzinhos,
Mas eles não sabem que o são.
O exílio é duro
Como a doce rapadura...
É preciso mostrar alguma dor.
Uma fraqueza qualquer
Para passar pelo portão.
O alívio é palavra proibida
O prazer de qualquer um uma blasfêmia.
Sexo só para procriação
Ou grana quando ela falta.
É tudo técnico:
Beijo e puxado,
Puxado e filhos,
Filhos e dinheiro,
Dinheiro e cerveja,
Cerveja e silêncio.
Sinuca e dominó.
Na afirmação dos homens – axé e forró,
No desespero das mulheres – forró e axé.
Rock ‘n’ roll para afetar rebeldia
Sem saber contra o quê.
Arte? Arte!? Arte!!??
Não! Não!! Não!!!
Bingo. Bicho. TV.
Pura diversão.
Conversas, muitas conversas com palavras.
Camas, muitas camas com lençóis.
Um filme! Um filme!
Depois de tudo – dublado.
Depois de tudo – legendado.
Depois de tudo – esquecido.
Os cachorros latem no exílio.
Os gatos miam no exílio.
E as pedras se encontram.
No domingo fico saudoso do ócio.

O melhor exílio é o interno.

Joâo Rosa de Castro - Alma Nua

EXÍLIO INTERNO

O pior exílio é o interno
Eis do que muitos fogem.
No seio do lar o descaso.
A intensidade da minha alegria.
A profundidade da minha angústia.
Inédito espetáculo num ensaio.
Eterno preparo para não ser visto,
Tanto quanto o dos distantes amados.
O mais próximo é o mais odioso.
Uma ameaça constante.
O mais distante não causa dano:
Parece falar de outro planeta,
Inalcançável, indiferente.
Mais adiante sou o herege.
Objeto de novenas,
Motivo para eternos rosários.
Credos, paternosters, hail Marys.
Como se a natureza houvesse errado
Em mim como num vulcão
Que desdenha os diabos.
Diabólicos sorrisos.
Como se o soldado-mãe
Como se o padre-mãe
Expiasse pelo crime
De conceber o grande monstro.
A esfinge que devora os homens
Perdidos nos prazeres da inocência.
Sim, exílio interno.
Mais interno do que nunca.
Dum lado a espera
Ou até mesmo o encanto
Do momento tão oportuno
De me expulsar para o meu mundo.
Risos da caricatura:
Um boneco que fala!
Uma estátua que anda!
Um demente que contesta
Napoleães e Platões!
O teste da moralidade!
Ele tem tudo de mal,
Mas ainda cabe nele
Esse contêiner infinito.
Vamos, ainda cabe nele
O nosso lixo atômico.
Aproveita que é estrangeiro
E que não tem passaporte
Para viver no paraíso
De compaixão e miséria.
É o exílio interno
O pior deles, na certa.
Na padaria, pensam em vender o pão.
Pensam em aumentar o cigarro.
Pensam seriamente quando digo obrigado.
Quando ando pelas ruas
Nowhere to go
Eu também fico procurando discos-voadores no céu.
As mulheres neutralizam tão pouco
A rudeza dos seus filhos.
Até parece que os amantes conceberam dormindo.
Sinto-me transformando
Nessa espécie quase-humana,
Tão natural e tranquila.
Mas no exílio não posso.
Sempre sinto que voltarei para a minha amada terra
Que tem palmeiras onde canta – e até dança – o sabiá.
Nunca mais serei popular.
Nunca mais saberei copular
Com saudade das belezas que eu tinha na minha terra.
É tão estranho vê-los competir.
É estranho vê-los jogar bola.
Vídeo-game,
Conversando
Nesse idioma estranho,
Programando o futuro,
Acreditando nele piamente.
Os meninos e os homens afirmando uma força.
As meninas e as mulheres preparando a maquilagem.
Os meninos contando dinheiro
Pras meninas dando mamá.
As famílias nas ruas falando mal das famílias
E das famílias das outras famílias.
Cada qual se sentindo a mais nobre.
Todo mundo tem medo de ficar sem amor.
Antes mal acompanhados do que só:
A solidão faz um medo medonho.
Todo mundo tem medo de ficar sem a grana.
Todo mundo tem medo de ficar sem a fama de bom.
Os ruinzinhos por natureza se juntam
Em grupinhos muito pequenininhos.
E os bons, a grande maioria,
Não lhes dá muita atenção.
Eu até quis me juntar aos ruinzinhos,
Mas eles não sabem que o são.
O exílio é duro
Como a doce rapadura...
É preciso mostrar alguma dor.
Uma fraqueza qualquer
Para passar pelo portão.
O alívio é palavra proibida
O prazer de qualquer um uma blasfêmia.
Sexo só para procriação
Ou grana quando ela falta.
É tudo técnico:
Beijo e puxado,
Puxado e filhos,
Filhos e dinheiro,
Dinheiro e cerveja,
Cerveja e silêncio.
Sinuca e dominó.
Na afirmação dos homens – axé e forró,
No desespero das mulheres – forró e axé.
Rock ‘n’ roll para afetar rebeldia
Sem saber contra o quê.
Arte? Arte!? Arte!!??
Não! Não!! Não!!!
Bingo. Bicho. TV.
Pura diversão.
Conversas, muitas conversas com palavras.
Camas, muitas camas com lençóis.
Um filme! Um filme!
Depois de tudo – dublado.
Depois de tudo – legendado.
Depois de tudo – esquecido.
Os cachorros latem no exílio.
Os gatos miam no exílio.
E as pedras se encontram.
No domingo fico saudoso do ócio.

O melhor exílio é o interno.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...