domingo, 29 de junho de 2014

João Rosa de Castro - Flores do Pântano

DESCOBRIMENTO DO BRASIL

Num dia como hoje descobriram o Brasil,
Mas eu não estava enfurnado no meu quarto.
Era outono como sempre é no mês de abril.
Caminha escrevia já no pensamento
Sobre as pegadas que vira na praia
Botinas pisaram antes,
Mas é melhor omitir as pegadas
Que vieram antes, muito antes
E que nem as ondas apagaram
Nem a história quis contar.

domingo, 22 de junho de 2014

João Rosa de Castro - Flores do Pântano

MERCADO FECHADO

O que há para o café?
O que há para o dia?
Nenhum assunto novo.
Nanotecnologia em benefício do mercado.
Mas há correntes envolvendo o mercado.
Não entra quem quer vender,
Só entra quem quer comprar.
É por isso que lá não vendo mais os meus beijos.
Há outros – rápidos, doces e efêmeros.
O meu beijo é amargo, longo, intenso.
Quando eu beijava à venda eu cobrava caro, muito caro.
Pois meu beijo eternizava
E quem me beijasse podia passar uma vida,

Toda a vida sem beijar ou mesmo querer beijar.

domingo, 15 de junho de 2014

João Rosa de Castro - Flores do Pântano

A LÂMPADA OCULTA


Ser primeiro e de todo
Pesa mais que ser visto.
Visto uma alma suja
Para ocultar seu matiz.


Nenhum sentido percebe uma alma,
Nenhum espelho lhe pode refletir.
A lentidão com que vagueia
É mais veloz do que os passos de quem corre.
E ainda os deuses lhe veem estática;
Como que no afã de paramentá-la
De armas e escudos
Para mantê-la acesa.

Qual uma lâmpada oculta
Das mãos que procuram
Apalpá-la nua,
Do olhar que busca

Engoli-la crua.

sábado, 7 de junho de 2014

João Rosa de Castro - Flores do Pântano

NEPENTES
             (a Thiago Nascentes)

Tudo mesmo,
E até a tristeza,
Tem fim.

Às vezes sou chamado para uma festa
E na festa nada foi planejado,
Cada cruzar de braços ou pernas
Resulta do não saber o modo de se portar.
Na festa um olhar acena,
Uma observação inocente pode ser maldosa.
Os mares se encontram confusos
Misturando uma profusão de águas.
As crianças brincam muito a sério.
Os homens brincam empolgados.
Todos lançam fundo a sua beleza;
Falam alto em pleno céu do dia,
Até que o entardecer acalme
E a noite assuste e cale
Tudo o que havia de ser dito.
Raramente um pensamento finda,
Tudo se rompe, corrompe – termina.

Mas tudo mesmo,
E até a tristeza,
Tem fim.

domingo, 1 de junho de 2014

João Rosa de Castro - Flores do Pântano

O AVARO

O avaro confessou o cúmulo da avareza:

Sabe que quando dorme é para estar só
E que quando acorda é para estar junto.

Mas, ao acordar, fica horas na cama,
Estando junto, querendo ficar só.
Nessa hora, ele tem uma abundância
Que ainda ninguém quer e ninguém pede.

À noite, porém, fica quase só – sonolento,
Conquanto esteja junto de todos ao seu redor,
Nesta hora em que todos o querem e todos pedem.

O avaro economiza alma.
E vive num Brasil-quase-Japão
E mora num Japão-quase-Brasil.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...