domingo, 27 de julho de 2014

João Rosa de Castro - Flores do Pântano

HOMO-SAPIENS

A sabedoria forjada na loucura disfarçada
Dos calcanhares que ajudam a acertar o passo
Faz de muitos os heróis que ainda restam.
Porque ainda há um voto
Porque ainda há a trave
Porque inda eclode o belo gol.
Não tem graça andar pela rua ao sol do inverno
Pra ver apenas o olhar disperso dos homens fracassados
E as pernas das mulheres perdidas.
As nuvens repetem o mesmo desenho de cores.
As árvores balançando com o vento
Choram a antiga ameaça.
Eu procuro a minha infância.
Procuro minha beleza,
Minha juventude,
Meu gozo.

A sabedoria agasalha os peitos e as genitálias
E a loucura com o olhar lancinante
Segue andando e rasgando os andrajos e as sobrecasacas mais caras.
A sabedoria tapa as narinas
E a loucura inspira fundo os odores das axilas
Mais perfumadas e deglute os mamilos mais tesos.

Isso é viver observando os movimentos da fauna.
A sabedoria só se apraz com o que se repete.
E a loucura é amiga de beijar
A mais bela boca
E engolir a saliva
Para nunca mais.

domingo, 20 de julho de 2014

João Rosa de Castro - Flores do Pântano

PENSAMENTO-BOA-ESTRELA

Eu não tenho nada para dizer.
É esse silêncio atroz que me assalta o peito.
Vou passivo ouvir uma canção ou outra.
Um fantoche do tempo e do vento.
Leve como um sono fugidio.
Mas, para dizer: nada.
É triste chegar em definitivo na desventura.
É triste e lúcido renunciar à vida.
Quando tudo está perdido, não existe nenhum caminho,
Pois nenhum destino me invoca.
Estar aqui a espera do pensamento que moverá o meu corpo.
Um chamado para os ouvidos ou os olhos
Traz em si mais um convite oco.
Mais alguém surpreso com o que há muito não me surpreende.
Só me resta o pensamento vindouro,
Trazendo as cores da próxima tela,
Os endereços que meus pés ainda hão de pisar,
As palavras que ainda hão de convencer.

Eu não tenho nada para dizer.
Os homens fogem das tempestades,
Passam apressados e afoitos,
Ainda procuram o graal de seus cavalos,
Ainda aventuras e o desconhecido distante.
Mas, o que há de mais oculto sempre jaz no próprio peito.
Os eremitas sentem perder vida no estio,
Os cavaleiros choram saudades na chuva.
O vazio do ser invade a todos.
Resta o meu pensamento-máquina
Que ainda não cabe em minha mente.
Talvez seja a grande morte,
Talvez o início de uma vida.
Ó, dúvida minha que me alimenta a esperança,
Onde andará o óbvio que não seja num punhal, num tiro?
O calabouço das consciências que saúdam fartas
Está perdendo os matizes e pondo insanos os homens.
Que dizer quem não pode ser herói?

Eu não tenho nada para dizer.
Meu grito emudece no meio da garganta:
Acorda meio mundo e meio mundo dorme.
Mundo, mundo, sonâmbulo mundo,
Se meu nome fosse Raimundo, eu seria um teorema
E não teria os pés no chão.
Espero meu pensamento-boa-estrela.
Tenho fé no meu pensamento apenas,
Rei de revoluções que nunca foram lutadas,
Certeza que ninguém assegura,
Sem preço pré-fixado,
Sem hora para chegar.
Tenho fé no pensamento

Meu e dizendo meu nome: João.

domingo, 13 de julho de 2014

João Rosa de Castro - Flores do Pântano


HY BRASIL
            (a Geraldo Cantarino)

O cume da ilha Brasil purpúrea e sombria,
O verde claro de auroras acumulando,
A esperança que toma minha alma vazia,
Pelo tempo, pelos ventos, por dias nefandos,
Agora é a luz no fim do túnel que arrepia.
Eu vi na radiância calma e pura rompendo,
Da praia da ilha Brasil que vem brilhando,
Qual o brilho da estrela guia assomando
E tornando mais bela a passagem fugidia
Para os confins da liberdade acenando.
Viva a paz na ilha Brasil noite e dia,
Onde as últimas estrelas sentem o mar tocando,
Quais as mãos e os dedos tocam a tez macia
E o orvalho matutino sente a pétala descendo.
Fico na ilha Brasil que há tempos eu não via,
Curar corpo e alma há muito sofrendo
Sofreres inúteis do amor sem alegria.
Na ilha de ouro vou-me sumindo

Para a eterna juventude que no mundo é arredia.

domingo, 6 de julho de 2014

João Rosa de Castro - Flores do Pântano

COLDPLAY

Para rebeldes sem causaCabeludos sem casaArcanjos sem asaAstronautas sem NasaA quem queimou-se na brasaÀ mulher que atrasaO calor que abrasaPro casal que casa.Pruma mente rasaFazer o que arrasa.Pro cadáver que jazaVivo ou morto em GazaPra que o doido do PlazaFaça tábula-rasaDa ação que infernizaPra que toda ojerizaOu daqui ou de IbisaSeja o que ruborizaO semblante da BrisaPara o homem que frisaQue é for him ou for JesusQue uma pele tão lisaA minha mão eternizaPara quem mais polemizaA canção que exorcizaO ardor que intronizaO amor que ironizaO meu pé que pisa.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...