domingo, 27 de setembro de 2015

João Rosa de Castro - O Erê - Com Prefácio de Rosângela Rodrigues Ferreira

A FALA


Qual futuro vêem eles nos meus olhos?
Toda mãe quer um filho elástico.
Será que a minha me quer?
Ah se eu já falasse.
Ia perguntar a ela:
- Mãe, você quer um filho elástico?
- Elástico? Onde você viu isso?
Um filho elástico! Ela diria.
- Tá na moda, mãe.
Tá na moda ser elástico.
É um pajem.
É um pajem que e é um enfermeiro que é um psicólogo que é um empresário que é um ator que é um imortal que é um cristo que é um rei que é um pajem.
- Ah sim! Ela diria.

Mas eu inda não falo.

domingo, 20 de setembro de 2015

João Rosa de Castro - O Erê - Com Prefácio de Rosângela Rodrigues Ferreira


O PEQUENO

Vejam só o que fiz com os meus pés.
Espalhei a cenoura cremosa
E a mandioca amarela
Misturei a aguinha, pisei
E deixei o chão com uma arte.
- O papai do céu não vai gostar.
- O papai do céu vai! Ele não gosta de arte?
E com minhas mãos arranquei o sapatinho branco e pus na boca.
Bati na borda do berço.
Quis rasgá-lo com a boca.
Pra que sapato?
E a camisinha nesse verão apertando.
E eu tendo pueril impaciência.
Querendo a independência.
- O papai do céu não vai gostar.
- O papai do céu vai! Ele não é impaciente?
Com trovões repentinos
E chuvas enchenteanas,
Tiros de revólver,
Porrada!?
- Só Ele pode ser impaciente.
E eu engatinhando e andando capenga, segurando pelas paredes e pelas portas dos armários, parando às vezes distraído com alguma coisa que brilhasse.
- Papai do céu não gosta.

- Gosta, sim. Ele não anda plantando florestas, lutando com dinossauros, empurrando aqui e ali continentes, soprando os rios para os mares?

domingo, 13 de setembro de 2015

João Rosa de Castro - O Erê - Com Prefácio de Rosângela Rodrigues Ferreira

O PERFUME


Daí começou o desejo de partir,
De voltar para onde estivera antes.
Eu me via desintegrar
E formar figuras celestiais – figuras infernais.
Era o fim.
Fim de mim.
Fim de tudo.

Um fim com ares de recomeço.
Um tornar-se novamente sensações.
Chegar até aqui e voltar
No circular movimento.
Mas, não!
Era preciso continuar.
Seguir ao encontro do desconhecido.
Descobrir o futuro inimigo.
Distanciar-me cada vez mais de mim mesmo
Ao ponto de me desconhecer ao espelho.
Isso começou tão cedo!
Isso ficou sem métrica.
Eu surpreso.
Eu inquieto.
Querendo os perfumes mais singelos ao redor.
Para me livrar desse impulso mórbido.
Reconceber-me
Zerar.
Sumir.

Daí começou o desejo de partir.

domingo, 6 de setembro de 2015

João Rosa de Castro - O Erê - Com Prefácio de Rosângela Rodrigues Ferreira

O OURO


De onde vem o interesse
De pegar o que se pensa
Com as mãos que não atingem
Abaporu na parede?
O que é pastoso se sabe
Quando escorre na virilha.
Nosso homem é criança
Que aprende tão depressa!
Ele é expressão proibida,
Foi uma paixão recolhida,
Hoje é um orgasmo desenfreado
Que na velocidade estática do tempo
Se transforma e não percebe.
Apalpar a idéia mais gentil
Que lhe surge na mente
É seu desejo e seu dilema.
Impossível! Impossível!
O invisível pesa,
O intocável é fugaz.
Ele vai insistir
Pensando ser ouro
Tudo o que brilha.
Pensando que o tesouro é fácil
Porque para ele tudo é tesouro.
“O príncipe e o seu trono futuro.”
Todo paraíso é deixado para depois.
Ele gosta de sofrer
Para entender cada nuance
Imperceptível do alívio.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...