domingo, 28 de fevereiro de 2016

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra


SHE PECULIAR

Adianto na minha corrente o contorno
Porque para trás ficou o vivido:
Para frente há mais de viver.
Adiante e sempre lento,
Sigo num movimento único e constante.
E a diferença, preguiçosa e omissa,
Entre catar feijão feio numa vil peneira
E arrancar palavras da mente com a mão certeira,
Seja por meio de dores,
Seja defendendo amores,
Sejam balas de eucalipto
Ou outras de pronto chumbo,
Reside na intenção que se traz no próprio peito.
E quem será o outro que decifra o teu mapa?
E qual será o livro que não o teu próprio
Para orientar-te nesta festa cheia?
É por isso que adianto na corrente o contorno e
Às vezes lembro, mas o vivido esqueço.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra

VITREUX

Sóbria tarde de silêncio na cidade.
O esconderijo dos mais deuses
Faz do céu um espetáculo de nuvens.
Pensa-se em festas e cortejos.
Cogita-se passeatas novas e imprevisíveis.
Mas o espírito livre só é livre que solitário.
Não pode manifestar-se amplo como o satélite ordena.
Esconde-se do fogo eletrônico à espreita atrás das árvores.
E alimenta-se assim.
E perambula assim.
E assim existe.
Out of the spotlights produz.
Com um brilho próprio.
Com um jeans eterno
E uma dupla volúpia na mente.
Digna do mais puro e sincero abandono

Nas noites de verão.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra


CAFÉ REQUENTADO

Vai até o fim da igrejinha
Na estradinha do córrego.
Você segue toda vida,
Passa pelo cemitério
E faz o sinal da cruz.
A estrada começa
E você caminha ela.
Ela continua como indo pros bambuzais.
Como passando na casa dos pretos.
Vai pelo morro dos cupinzeiros a estrada longa.
Segue como quem vai o morro da cachoeirinha
E vai depois do morro,
Vai depois do morro,
Bem depois do morro.
Toda a vida.
Ai você vai ver a descida da boa morte.
Pega o caminhozinho que começa nela à esquerda e vai até o fim.
Lá no fim da boa morte tem um riacho.
Atravessa a pontinha que corta.
E pulando as pedras você vai ver a casa.
O casebre de madeira, a choupaninha sem banheiro dentro.
É lá.

É lá que ficam os computadores com placas de diamantes, chips de ouro, antenas de esmeraldas, torres de jaspe, cabos de fibra prateada, toda a rede que difunde o sistema dos sistemas, o programa dos programas e transmite os sinais que regulam o temor humano e o movimento cósmico de toda existência pulsante e de onde Deus sozinho joga seu eterno videogame escondido do resto do mundo.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...