domingo, 31 de dezembro de 2017

João Rosa de Castro - Bis

SENHORA

Quem quer ouro ganha glória,
Quem quer glória ganha ouro.
Mas não dá pra ser assim.
Tal qual se quer.

Você aceita a resposta que não foi pensada.
Você parece me querer como eu estiver.

Na pobreza do balaio há riqueza impenetrável.
Você é uma heroína inalcançável, indecifrável – uma esfinge.



Todo o meu manifesto escrito teve início em 1992. Portanto, em 2018, serão 26 anos de letras. Até aquele ano, eu tinha trabalhado bastante sem saber com que finalidade. Fora mensageiro em escritórios do centro de São Paulo. Andara com documentos envelopados sem saber o que diziam. Entregara duplicatas, cujos pagamentos ou serviços não sabia serem lícitos. Talvez, fosse cúmplice de gangues sem que nem o percebesse. O crime estava além do meu entendimento. Não que hoje já o entenda.
Os amigos de minha idade eram tão ingênuos quanto eu. Íamos três ou quatro rapazes em busca de emprego pelo centro, vindo andando da República até o Brás, em busca de placas “admite-se office-boy” ou, o que era mais interessante e até pomposo: “admite-se auxiliar de escritório”. Não encontrávamos nada.
Por fim, fui trabalhar numa agência de turismo que precisava de office-boy. Acabei sendo promovido, finalmente, para a profissão cobiçada: auxiliar de escritório. Passava o dia inteiro no telex e achava aquilo “chique”.
Quando fiz dezoito anos, em vez de ir para o exército, como todo homem-feito, viajei para Minas Gerais com a família de meus pais e, quando voltei, depois de jurar a bandeira, fui logo cooptado para os afazeres da vida normal.
Passei a trabalhar em apart-hotéis, onde conheci muita gente interessante, celebridades que ainda hoje o são. E ainda hoje questiono o porquê da nossa subserviência àquele ridículo da época, o mesmo ridículo de hoje.
Eu não me dava a menor oportunidade de viver uma vida onírica; jamais sairia em busca de algo que não fosse “útil”. Sentia que havia algo de errado na vida que levava. Meus amigos eram todos mais velhos que eu. E eu via os caras da minha idade entre si e questionava: que será que eles estão pensando? Assim como hoje também não sei o que os caras da minha idade estão pensando. Ainda bem que não vivi segregado. Isto fez uma diferença. Teria sentido a vida como um eterno ateneu.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...