domingo, 18 de fevereiro de 2018

João Rosa de Castro - Bis

CONHECER 

Eu conheci o mistério do vento.
Donde surge, aonde sopra, porque encanta.
De altos picos, de vistas everestianas 
Eu vi que a vida é de subir e de descer.
Vi o alvoroço, o vai-e-vem dos automóveis
E algumas leis que os permitem mover.
E no silêncio de uma tarde radiante
Vivi o insight pra mais ainda inventar.
Tudo é novo, posto que o velho se reveste.
Nada se perde: tudo pode acontecer.
Eu conheci o segredo da miragem
Que na cidade já se faz compreender.
É o meu impulso curioso e ladino
Que quer saber e quer saber e quer saber...
Eu lá no campo percebi que a terra é virgem
E conheci que ainda há muito que aprender.
O feito e pronto aparece no futuro
E o futuro está no próprio conhecer.


ZUM

Zum forma com Bis uma palavra que me é muito cara: Zumbis. Imagine se cada um de nós fosse um Zumbi dos Palmares? Libertários como ele!
O livro traz o primado da criação. Inicia com o poema “Produção Independente”. A escravidão de si mesmo. A mais acertada. A mais democrática das escravidões. O escravo de si mesmo não escraviza ninguém nem se deixa escravizar por ninguém ao mesmo tempo que escraviza a todos e se deixa escravizar por todos. Ninguém mais que Zumbi para ter pensado em algo como isto.
Ainda, o poema “Filtro Cera” diz: “quem tem de excluir, exclui sem saber cores.”. O que disse há alguns dias nas redes sociais: não se pode confundir preconceito, racismo e discriminação com maus-tratos. Isto que a gente preta sofre são maus-tratos. E os maus-tratos são apanágio da raça humana, não de uns ou de outros.
Mas, “Ritual Diário” nos iguala: “Mastigar, saborear, engolir e esperar o grande efeito alucinante”. Numa alusão à fome, que não escolhe classe nem indica se existe algo que lhe sacie.
Ainda, em “Fecundação”: “O meu desejo escreveu o que com os olhos se apaga”. Uma alusão ao que o filósofo dizia sobre como o ouro perde valor quando colocado em praça pública. Muitos sentimentos e pensamentos só têm valor quando não são popularizados.
O “fazer” está bastante presente nesta obra. Não me recordo o porquê da relação entre Zumbi e a produção. Talvez uma referência ao fato de que o engenho de cana-de-açúcar só foi possível e produtivo no Brasil depois que os escravos pretos vieram e assumiram-no. Se não fosse esse fato, nada de Brasil. O preto e a técnica estão ligados pela própria natureza, uma vez que os portugueses faziam tudo para não se profissionalizarem como os pretos fizeram e ainda fazem.
O seu autor,
João Rosa de Castro.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...